Saturday, May 20, 2006

Níveis de Ecologia

O texto a seguir é de 2005 antigo. Foi publicado nas minhas Notas do Turismo em 2005 em um prover que saiu do ar. Foi republicado em vários sites nacionais como o H2Foz e Etur. Acho oportuno que o material apareça aqui também na página de uma ecologia mais profunda.
Para você:
Vou dedicar esta e as próximas Notas do Turismo para tratar de ecologia. Há muita confusão, usurpação, enganação e injustiça rolando por aí. Minhas palavras estão inspiradas no trabalho do filósofo norueguês Arne Naess (mas não o compromete), formulador da teoria conhecida como "ecologia profunda". Minha fonte direta, agorinha, é o Manual de Redação para a Revista australiana "Trumpeter", que dita regras para possíveis candidatos a submissão de artigos.

Minha pergunta geral aqui e agora é: quando falamos de ecologia, estamos falando da mesma coisa? Vou apresentar aqui cinco plataformas ou níveis diferentes de ecologia. (1) Científico. (2) Filosófico. (3) Ativista. (4) Formulador de Políticas. (5) Executor de Política.

(1) É ecólogo aquela pessoa que tem um diploma universitário em ecologia oferecido por uma faculdade. Ecologia é uma ciência ligada à tecnologia. (2) A ecofilosofia ou ecosofia é a ecologia como filosofia de vida e ligada à ecologia profunda, e a uma maneira de ver a vida e o mundo. O filósofo Arness está nesta categoria.

A categoria (3) é a ecologia de princípios e plataformas e está ligada ao ativismo que é o que as pessoas entendem por "ecologista", onde se encontram o Greenpeace, ONGs, e muitos indivíduos. São pessoas que lutam direta e apaixonadamente pela preservação de alguma coisa a partir de uma plataforma que pode ser política, religiosa, cultural, de consciência. A próxima categoria (4) é a das pessoas ou órgãos que tem como missão a formulação de políticas concernente as relações da sociedade com o meio onde vive: aí entram desde as comissões parlamentares, às casas Legislativas, especialistas, e todos aqueles envolvidos com consulta para a formulação dessas regras. Por fim vem os (5) órgãos que executam, fiscalizam, multam, controlam. Aí estão o IAP, o Ibama, a Polícia Florestal etc. Há uma tendência de só enxergar esta categoria como sendo "a ecologia" e isso é ruim.

Resumindo: a categoria 5 faz valer as leis e regulamentos criados pela categoria 4 sob pressão da categoria 3 inspiradas no pensamento da categoria 2 que para isso foi alertada pela categoria 1. Este é um modelo simples demais. É só para ajudar a entender. Não é uma verdade absoluta revelada por Nossa Senhora.
O problema é que hoje em dia, tudo isso está embolado. E o resultado é uma grande confusão, ingerência, usurpação onde a comunidade só tem acesso ou só tem notícia da categoria número cinco. Graças a isso, as pessoas vêem a Policia Florestal como "ecologista" ou Ibama como filósofo, funcionários do Ibama como consultores, consultores como executores, consultores como empreendedores e a imprensa como leva-e-traz, divulgadora e perpetuadora desta confusão.
Quem paga o preço é a comunidade quer local ou planetária. Exemplo: a aprovação de uma Lei de Biosegurança que não assegura a saúde do povo, uma CTNBio que não garante a segurança da biosfera, Parque Nacional como o Iguaçu que não conhece a filosofia de sua fundação, que não sabe o que são e muito menos identificar quais são os valores excepcionais, intrínsecos, estéticos e naturais, conceitos que levam à filosofia.
Conclusão por hoje: o ecólogo pode não saber nada da axiologia do seu alvo de estudo; o ativista pode não saber porque defende o mico muriquí além de poder ser só uma peça de manobra; o legislador legisla por legislar; os órgãos vão cumprir as ordens por dever e os policiais vão prender por prender. E o filósofo? Este, morre de fome ou se extingue antes do mico muriquí.

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